Ontem, quinta-feira, 29 de setembro, teve lugar o debate na Globo entre os candidatos às eleições presidenciais de 2022. O encontro aconteceu na sede da emissora no Rio de Janeiro e reuniu os candidatos Jair Bolsonaro (PL), Lula da Silva (PT), Simone Tebet (MDB), Ciro Gomes (PDT), Luiz Felipe D'Ávila (Novo), Soraya Thronicke (União Brasil) e o Padre Kelmon (PTB).
Acho que foi, salvo melhor opinião, um debate confuso, com falta de educação e sem propostas para o Brasil. Mas, vamos analisar e deixarei a você tirar suas próprias conclusões. Então:
Ao contrário do debate da Band, o único com todos os candidatos à presidência até esta noite, o primeiro bloco foi marcado por ataques diretos entre os candidatos.
O destaque vai, obviamente, para Lula e Bolsonaro, que, como esperado, travaram duelos desde o primeiro momento.
O ex-presidente e o presidente se acusaram de casos de corrupção, falaram sobre suas famílias e até citaram o assassinato do então prefeito de Santo André, em 18 de janeiro de 2002, Celso Daniel (PT).
Logo que começou o primeiro bloco, Ciro Gomes gaguejou durante a pergunta e ouviu de Lula que parecia "estar nervoso". O petista citou as conquistas dos mais pobres durante seu governo, como andar de avião e comer churrasco e lembrou que Ciro fez parte de seu governo.
Então o padre Kelmon (PTB) chamou Jair Bolsonaro para fazer uma pergunta para ele. Assim como aconteceu no debate do SBT, ele fez uma pergunta para alavancar descaradamente o Presidente, elogiando a forma como este geriu a pandemia no Brasil (?).
Também questionou se Bolsonaro planejava manter o Auxílio Brasil no valor de R$ 600 - o benefício nesse valor termina no final desse ano e não deverá ser mantido no orçamento de 2023. Jair Bolsonaro confirmou que manteria o valor e aproveitou o espaço para atacar o PT e acusar Lula de corrupção.
O PT pediu direito de resposta e acusou Jair Bolsonaro de formar quadrilhas em diferentes circunstâncias, como na compra de vacinas e no caso das rachadinhas. Bolsonaro então pediu o direito de resposta e acusou os filhos de Lula de corrupção.
Em seguida, Lula voltou ao púlpito para um novo direito de resposta e prometeu acabar com o sigilo de 100 anos decretado por Bolsonaro. O Presidente pediu um novo pedido de resposta e foi negado.
Na pergunta seguinte, de Felipe D'Ávila a Ciro Gomes, ambos focaram em atacar Lula da Silva.
Na vez de Jair Bolsonaro perguntar, ele escolheu Simone Tebet (MDB) e resgatou a pergunta de Celso Daniel. Tebet não defendeu o PT, mas reclamou da questão e pediu que ele falasse sobre a questão da fome. Enquanto a candidata falava, Bolsonaro tomava notas. O presidente justificou a pergunta dizendo que a Senadora da legenda de Tebet, Mara Gabrilli, é que vem falando sobre esse assunto.
Após o embate, Lula pediu o direito de resposta. Ele pediu desculpas aos eleitores, mas explicou que achou as declarações profundas. O petista elogiou o ex-companheiro Celso Daniel, a quem chamou de amigo e grande gestor público.
Lula da Silva (PT) então escolheu Soraya Thronicke (União Brasil) para fazer a pergunta. O tema foi a fome, que se
calcula que atinja 33 milhões de brasileiros atualmente. A candidata, questionada sobre os projetos para acabar com a fome, evitou responder e falou sobre sua trajetória política. Lula então listou as ações de seu governo contra a corrupção.
Soraya então escolheu o padre Kelmon e perguntou se ele não tinha vergonha de defender um governo que atrasava as vacinas. O candidato a chamou de mentirosa e ela o chamou de "cabo eleitoral" de Bolsonaro. Soraya questionou Kelmon se ele, como padre, não teria medo de “ir para o inferno por mentir”.
Lula voltou ao púlpito para um novo direito deresposta após um discurso de Bolsonaro. Ele pediu desculpas ao eleitor por atrapalhar a dinâmica.
Simone Tebet chamou Felipe D'Ávila para perguntar e criticou a gestão de Bolsonaro pela forma como geriu a pandemia de Covid-19 no Brasil. Os dois debateram propostas para a saúde e o candidato do Novo propôs a privatização do SUS.
Com a mudança de estilo nas perguntas, com temas pré-determinados, o segundo bloco acabou sendo bem mais tranquilo que o primeiro. Mudanças climáticas, cotas raciais e relações com o Congresso foram alguns dos temas que os candidatos puderam debater em todo o bloco, sempre com perguntas diretas. Acontece que, nem sempre, os candidatos presidenciais permaneceram fiéis às respostas solicitadas... enfim, o habitual!
Já no segundo bloco do debate, foram sorteadostemas para os candidatos fazerem perguntas uns aos outros. O primeiro tópico foram as cotas raciais. Felipe D'Ávila (Novo) não fez perguntas sobre o tema; ele só mencionou o prazo para questionar Lula (PT) sobre corrupção.
Por outro lado, o PT falou sobre a importânciadas cotas como reparação histórica da escravidão e da inclusão de negros e pobres nas universidades. D'Ávila não mencionou as cotas raciais em sua resposta e citou números para acusar Lula de casos de corrupção. O petista disse então que queria cuidar do povo brasileiro para que todos pudessem comer.
Simone Tebet (MDB) escolheu Jair Bolsonaro (PL) para colocar seu questionamento. A pergunta era sobre o desmatamento e ela perguntou o que ele faria diferente.
O presidente disse que o Brasil é um "exemplo para o mundo" de sustentabilidade e que o fogo é "natural". Bolsonaro acusou Tebet de ter "inveja de Teresa Cristina, que ocupou sua cadeira no Senado pelo Mato Grosso do Sul".
Bolsonaro zombou das declarações de Tebet: "Então, a falta de chuva é minha culpa", xingou ele.
NA: Recordo que o Brasil está sendo alvo de críticas no cenário político internacional pelo desmatamento ilegal. Isto já para não falar no impacto negativo que está tendo na fauna silvestre e junto dos povos indígenas.
Padre Kelmon chamou Ciro Gomes para tirar uma dúvida sobre educação - a ideia era chamar Lula da Silva, mas o ex-presidente já havia sido questionado antes. Assim, Kelmon leu uma pergunta que chamou as universidades de “antros de militantes do PT".
Então Soraya Thronicke (União Brasil) teve de fazer uma pergunta sobre o combate ao racismo e escolheu o padre Kelmon - a quem chamou de "candidato a padre". Soraya falou sobre problemas no governo Bolsonaro sobre o tema preconceito.
Kelmon afirmou que não se poderia "criar políticas que criem mais divisão" e declarou que "existe apenas uma raça, existe apenas o ser humano". A candidata da União Brasil o chamou de "Festival do Pai junino".
Jair Bolsonaro teve de perguntar sobre sua relação com o Congresso e escolheu para isso o candidato Felipe D'Ávila. O presidente disse que a relação com o Congresso é complicada e declarou que "acabou com o dar e receber".
D'Ávila afirmou que tal esquema é lamentável e o lembrou do orçamento secreto. "Tornou-se uma moeda de troca", disse ele. "A questão dos aliados me entristece. Quando você começa a fazer uma base aliada com ex-mensaleiros, fica difícil governar", declarou D'Ávila, que então elogiou Romeu Zema (Novo) pelo governo mineiro.
Bolsonaro disse que tentou vetar o orçamento secreto, culpou os relatores da Câmara e do Senado e negou ter havido conluio.
Lula da Silva perguntou para Simone Tebet sobre o meio ambiente e quais seriam suas propostas para reverter as mudanças climáticas. Tebet criticou Bolsonaro, o acusou de ter mentido sobre o desmatamento e prometeu que, em um seu eventual governo, o desmatamento ilegal seria intolerável e Lula disse o mesmo.
A última pergunta foi de Ciro Gomes para SorayaThronicke e o assunto foi o emprego. Ciro falou sobre refinanciar dívidas e estabelecer uma política de renda mínima, além de criar 5 milhões de empregos em 2 anos.
No terceiro bloco do debate, os candidatos puderam fazer perguntas temáticas livres para os seus adversários.
Jair Bolsonaro (PL) colocou seu questionamento a Felipe D'Ávila (Novo). O presidente listou pontos que considera positivos na economia e perguntou se o candidato do Novo temia a volta da esquerda ao poder. D'Ávila respondeu que sim e pediu reformas trabalhista e tributária. Ambos fizeram uma dobradinha para criticar o PT.
Padre Kelmon escolheu Lula e perguntou para ele sobre as prisões de seus aliados e os casos de corrupção. "Explique às pessoas por que tantas pessoas próximas a você foram presas?" ele disse, lendo a pergunta de um papel.
Lula tentava responder (mal), mas também era sempre interrompido pelo padre, o que rendeu uma bronca de Willian Bonner, apresentador da TV Globo. O petista disse que as acusações contra ele eram “mentiras” e lembrou que o juiz que o julgou posteriormente foi trabalhar no governo de Jair Bolsonaro, referindo-se a Sergio Moro.
Kelmon aproveitou para xingar e ofender Lula. Lula da Silva disse que o adversário estava "vestido de padre".
Os dois entraram em uma discussão e os microfones foram cortados. William Bonner interrompeu e pediu a todos que "respirassem".
Na réplica de Lula, Kelmon continuou interrompendo o ex-presidente.
"Vejo um impostor", disse Lula sobre ele, lembrando que Kelmon não é reconhecido como padre pelas instituições
brasileiras ligadas à Igreja Católica.
NA: Eu mencionei este fato em minha crônica na última terça-feira, dia 27 de setembro.
Durante a discussão, Bolsonaro pediu direito de resposta, mas o pedido foi negado porque ele nem tinha sido mencionado.
Já o candidato D'Ávila escolheu Simone Tebet para questioná-la e disse que restabeleceria a "civilidade" no debate. O assunto era a política de privatização de empresas estatais.
Lula pediu direito de resposta durante o discurso de Felipe D'Ávila e não foi atendido.
Em seguida, Ciro Gomes chamou Bolsonaro ao púlpito e alegou que o presidente estava sob pesadas acusações de “corrupção generalizada”. Bolsonaro rebateu as críticas sobre a queda do PIB, mas Ciro alertou que estava falando de governos anteriores, não dele. “Ok, o nosso também caiu por causa da pandemia”, disse o presidente.
Ciro aproveitou para criticar o orçamento secreto e disse que vai acabar com a medida. Bolsonaro voltou a notar que tem interferência "zero" no orçamento.
Quando Lula escolhia alguém, chamava Ciro Gomes e perguntou sobre o desmantelamento da cultura e quais seriam as políticas do PDT para a área. "A cultura afirma a identidade de um país, de uma nação", respondeu. Ciro propôs a recriação do Ministério da Cultura e a revisão de políticas como a Lei Rouanet.
Tanto Lula quanto Ciro falaram sobre propostas de cultura, mas o pedetista aproveitou para criticar o petista, com foco na questão da regulação da mídia.
Soraya Thronicke debateu morno com Kelmon e até mandou um abraço ao "Padre Antônio" que a casou. Todo o tempo foi dedicado a homenagear o padre e Kelmon respondeu, sem ser questionado, sobre a importância da educação e disse que a sexualidade não podia ser ensinada na escola.
Kelmon disse que alguns dos presentes precisam de "catequese" para entender o valor de um padre.
Por fim, Simone Tebet perguntou a Soraya – porque ela foi chamava de "candidata de Bolsonaro", mas depois se desculpou. Em seguida, ela perguntou sobre como resolver a educação dos jovens. Ambas trocaram ideias sobre o tema.
Antes do fechamento do bloco, Bolsonaro pediu direito de resposta para um discurso de Tebet. Ele se defendeu e insistiu que não era culpado pelo orçamento secreto.
No último bloco do debate, foram sorteados temas para os candidatos tirarem dúvidas entre si.
O primeiro embate foi sobre "segurança pública" e Soraya Thronicke (União Brasil) perguntou se Jair Bolsonaro (PL) faria um golpe de Estado se perdesse a eleição.
O presidente não respondeu e passou a agredir pessoalmente, afirmando que a senadora lhe havia pedido cargos e que não havia corrupção em seu governo.
Ela então perguntou se Jair Bolsonaro havia sido vacinado contra a covid-19.
O presidente não respondeu se tomou a vacina, mas disse que comprou as imunizações. Bolsonaro voltou a dizer que "vacinou-se quem quis. A senhora sabe o que é liberdade? Quem não quiser tomar vacina que não tome."
NA: Extraordinário como o ainda chefe de Estado falta ao respeito à memória dos 686 mil brasileiros mortos por SARS-CoV-2.
A candidata Soraya pediu o direito de resposta, que foi concedido. Ela disse que o governo de Jair Bolsonaro não foi transparente e citou o sigilo de 100 anos no cartão de vacinação.
Simone Tebet (MDB) teve de fazer uma pergunta sobre gastos públicos e escolheu Lula (PT). Ela comparou os governos do PT e Bolsonaro sobre gastos públicos e casos de corrupção.
O candidato do Partido dos Trabalhadores e numerou as conquistas de seus governos, com foco no uso do dinheiro público para investimento em estrutura e pagamento de dívidas.
Após o embate, Bolsonaro ganhou o direito deresponder a um discurso de Soraya Thronicke. O presidente pediu votos para um candidato do Mato Grosso do Sul, adversário de Soraya. "Uma pessoa sem qualquer gratidão", disse ele sobre o adversário.
Bolsonaro então convidou o padre Kelmon (PTB) para comentar sobre políticas culturais. Como sempre, criticou os artistas e a Lei Rouanet e fez dupla com o aliado, que foi ao debate para ser a escada do presidente e falou mal de Lula e do PT.
Ciro Gomes escolheu Soraya Thronicke para fazer uma pergunta sobre a privatização. A senadora, porém, aproveitou o espaço para criticar Jair Bolsonaro. "Quando alguém tem um problema, tem que ser tratado, não descontar o povo brasileiro", disse ela. Em seguida, ela criticou a gestão de empresas estatais pelo governo Jair Bolsonaro.
Então Felipe D'Ávila teve de falar sobre saúde e escolheu Simone Tebet. A senadora ressaltou a importância de ter um governo federal robusto para que o SUS funcione melhor.
Padre Kelmon optou por fazer uma pergunta a Felipe D'Ávila e gaguejou ao ler uma pergunta sobre o programa Casa Verde e Amarela, de Bolsonaro. O candidato do Novo elogiou um colega prefeito de Joinville.
No final do bloco, Lula teve de perguntar para Ciro Gomes sobre agricultura. "Um problema sério que temos no Brasil é a questão climática. É um problema do planeta Terra. Você acha necessário continuar a loucura do desmatamento desnecessário para aumentar o plantio neste país?" perguntou ele.
Ciro Gomes afirmou que não e voltou ao PlanoNacional de Desenvolvimento para citar as ideias que têm quando o tema é o ambiente. Lula já falou em criar o Ministério dos Povos Indígenas. O diálogo foi calmo e amigável, mas Ciro criticou o método de Lula de fazer referências ao passado.
CONCLUSÃO: Ontem, para mim, não houve vencedores claros no debate, houve, isso sim, como disse no início, muita baixaria.
Estou convencido que quer Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quer Jair Bolsonaro (PL) não devem ter atraído muitos votos.
Acho também que o eleitor brasileiro está cansado da ausência de apresentação de soluções para os problemas do dia a dia do brasileiro.
Se continua falando muito no passado e quase nada no futuro do Brasil.
Logo, o meu elogio fica reservado para a Senadora Simone Tebet (MDB).