A COBRA VAI FUMAR

Hoje irei falar na questão dos direitos dos indígenas que, seguramente, por incapacidade minha, é uma matéria que ainda não consegui entender muito bem! Mas eu lerdo me confesso...  

E o inconcebível aconteceu mesmo! O presidente Jair Bolsonaro recebeu, no passado dia 18 de Março, a medalha do mérito indigenista, concedida pelo seu próprio ministro da Justiça, Anderson Torres, em uma cerimônia fechada por sua determinação e que não constava da agenda, depois de duras críticas à concessão da comenda por parte de lideranças indígenas e personalidades da área.   

Na Coreia do Norte comunista, o antigo ditador Kim Il-sung (1912-1993) era ele que também se autoatribuía títulos e assim era tratado por seu próprio povo como o Eterno Líder, Grande Marechal Supremo, Comandante do Exército do Povo Coreano e no que respeita a condecorações ele também se tinha autoatribuído a  Ordem da Bandeira Nacional (1ª Classe com colar, seis vezes), Herói da República (três vezes), Ordem Comemoração da Fundação da República Popular Democrática da Coreia (duas vezes), Ordem da Liberdade e Independência (1ª Classe, duas vezes), Medalha de Mérito Agrícola, Herói do Trabalho, Medalha de Honra do Serviço Militar. Só a Ordem Comemorativa do "60º Aniversário da Vitória da Guerra de Libertação da Pátria" é que foi póstuma.   

Mas, retornando ao Brasil, em seu discurso, nessa tal cerimonia da passada sexta-feira, o presidente Bolsonaro, usando um cocar, afirmou que seu objetivo é fazer com que os índios se sentissem “exatamente como nós” e que nós “somos exatamente iguais. Todos nós viemos à Terra pela graça de Deus. [Tenho] o orgulho de ocupar essa posição, de ter ao meu lado o atual ministro da Justiça, Anderson, e o presidente da Funai, Xavier, comprometidos em cada vez mais, nos transformarmos em iguais. Isso não tem preço.”   

Nesta cerimônia, Bolsonaro foi elogiado pelo presidente da Funai, Marcelo Xavier, o qual, obviamente, foi também foi condecorado pelo ministro da Justiça, Anderson Torres.    

Estou pasmado... quanta hipocrisia! Quanta Cara de Pau!    

Um dos maiores sertanistas do país, ex-presidente da Fundação Nacional do Índio, Sidney Possuelo devolveu a medalha que havia recebido, em 1987, ao saber que o presidente Bolsonaro iria ser agraciado. Possuelo foi o responsável pela demarcação da Terra Yanomami e foi por isso constantemente criticado por Bolsonaro porque “a área era grande demais”. Sidney Possuelo enviou a comenda acompanhada de uma carta ao ministro da Justiça em que se lê:   

"Entendo, senhor ministro, que a concessão do Mérito Indigenista ao senhor Jair Bolsonaro é uma flagrante, descomunal, ostensiva contradição em relação a tudo que vivi e a todas as convicções cultivadas por homens da estatura dos irmãos Villas Boas" e lembrou que o presidente, quando deputado, afirmou que a "cavalaria brasileira foi incompetente" por não ter dizimado todos os indios no país, “como teria feito a norte-americana”.   

Um levantamento do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) mostra que a invasão deterras indígenas aumentou 137% apenas nos dois primeiros anos do governo Bolsonaro e o assassinato de líderes indígenas cresceu 67% no mesmo período.   

Gostaria de prestar aqui a minha humilde homenagem a grandes vultos na defesa dos direitos dos indígenas e do nosso meio ambiente. Só que, felizmente para o Brasil, a lista seria longa e ilustre, donde não tenho nem tempo, nem espaço suficientes!   

Mas,  destaco Txai Suruí, nascida dos Povos Suruí, no estado brasileiro da Rondônia, que discursou, a 31 de outubro de 2021, durante a abertura oficial da Conferência da Cúpula do Clima (COP26), na cidade de Glasgow, Escócia, Reino Unido, criticando a política ambiental (ou antes a falta dela) do Governo brasileiro, bem assim, como o total desrespeito pelos direitos dos povos indígenas consagrados na Constituição brasileira de 1998.   

“Até porque a realidade na minha terra indígena é uma realidade já de ameaça. A gente realmente está lutando com nossas vidas.“ e continuou "Os direitos indígenas estão na nossa Constituição ainda que não estejam sendo respeitados. Eu vou usar o Direito para a luta mesmo."   

Agora, devo confessar que já não entendo mais nada...    

Afinal a origem de todos os males não residia (só) no colonialismo português, nomeadamente iniciado com um tal de Cabral, genocida, nascido em Belmonte, na “Terrinha”, mas que, com o Grito do Ipiranga, tudo se teria resolvido?   

Aparentemente, assim não foi...   

Também, não se caia na tentação fácil de imputar agora todas as responsabilidades (ainda que muitas seguramente terá) ao Presidente Jair Messias Bolsonaro.   

Porque seria demasiado fácil e até injusto, porque passaria o pano sobre uma série de criminosos que vem atuando impunemente contra os interesses do Brasil. Darei alguns exemplos: o garimpo ilegal, só na região de Itaituba e Jacareacanga, no Médio Tapajós, que é o epicentro do ouro ilegal no Brasil. E os indígenas enfrentam ataques constantes de garimpeiros. Em 2021, a situação piorou... o que por si só demonstra que Portugal não “roubou todo o nosso ouro” porque ainda ficou sobrando algum...   

Mineradora norueguesa tinha 'duto clandestino' para lançar rejeitos em nascentes amazônicas, ao mesmo tempo que Governo norueguês acusava o Brasil de más praticas ambientalistas. Que topete!

Policia Federal suspeita é que fazendeiros atearam fogo para aumentar área de pastagem para gado ou ao limite também temos fazendeiros, do Pantanal à Amazônia, que queimam suas pastagens todos anos e não tem um plano de ação caso o fogo se espalhe além do planejado para queimar.   

Agora, feitas que foram estas ressalvas da mais elementar justiça, a 8 de Agosto de 2016, ainda Bolsonaro não tinha sido eleito Presidente da República e já o arrendamento das áreas indígenas e a permuta por outras terras, bem como reconhecimento das demarcações das reservas indígenas ocupadas a Outubro de 1988 - data da promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil - merecia contestação por parte do Cacique Raoni Metuktire, líder da etnia Caiapó, quando se avistou com o então Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia.    

Mais, nessa altura o Cacique Raoni Metuktire declarou que “Querem acabar com a Funai e com a saúde indígena e querem legalizar a mineração em terras indígenas”.   

Mas, o curioso é que já antes, em 2013, o Cacique Raoni Metuktire vinha dizendo a mesma coisa e aparentemente ninguém lhe ligava nenhuma!   

E então o que dizer do ex-Cacique Xavante e ex-Deputado Federal Mário Juruna, falecido a 17 de junho de 2002, que ficou famoso por andar em Brasília (DF) de gravador em punho gravando as promessas feitas pelos políticos no tocante às reivindicações dos povos indígenas?   

Se agora a culpa é do Bolsonaro, para isto passar a fazer algum sentido, na minha modesta opinião, há que repartir as culpas dos crimes ambientais cometidos na Amazónia e das inobservâncias dos Direitos dos Povos Indígenas… com todos os outros que eu acima citei e mais outros tantos!    

Só pode…   

Notar Bem: Mas, em 2019 só a República Popular da China e os EUA, os dois países juntos, eram responsáveis por 38% do CO2 emitido para a atmosfera; o Brasil era responsável por 2,8% das emissões. A França, hoje, tem 5% do seu território ocupado com floresta e o Presidente Emmanuel Macron é o campeão mundial das políticas ambientais; já o Brasil tinha - até aqui - 63% do seu território coberto de floresta virgem...   

Fonte:https://rhg.com/research/chinas-emissions-surpass-developed-countries/?fbclid=IwAR1wy5abRU2eu2eBCUSTD4IYq5UkoEP2N3o5TkiiOZdkTFUWk3N8glSJZaE 22/03/22   

Para que se saiba!!! 

 

Post Scriptum: Por isso se torna de vital importância fazer com que o Congresso Nacional (DF) não aprove o Projeto de Lei do presidente Jair Bolsonaro, que conta com o apoio do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), o qual permitirá a liberação da mineração em terras indígenas!      

Foto de Sebastião Salgado