CONVERSA PARA BOI DORMIR 

Em minha opinião as eleições não são tudo em democracia, mas seguramente sem elas não há democracia. Não são um mal necessário, se não um elemento que define a qualidade democrática e o elemento-chave que dota as instituições republicanas da sua legitimidade. O mesmo princípio se aplica às campanhas eleitorais. O cidadão brasileiro não vota apenas pela campanha, mas sem uma campanha eleitoral (de preferência bem planejada), dificilmente se ganha eleições em democracia.

Ainda que muitos dos discursos que ouvimos nos comícios ou nos debates não seja mais do que “conversa para boi dormir” por parte de todos os candidatos ao povo brasileiro, temos, apesar de tudo, que reconhecer que existem propostas mais realistas e outras completamente demagógicas.

Em alguns casos temos assistido aos candidatos solicitando um voto de misericórdia, noutros pedindo um voto de confiança, noutros ainda exigindo um voto de lealdade e, noutros até, promovendo uma inqualificável chantagem para obtenção desse voto, ou seja, através da mentira deliberada e proferida com todos os dentes que têm na boca relativamente a medidas que não tem a mínima intenção de cumprir ou que sabem que não poderão cumprir.

Aliás, se Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood atribuísse uma nova categoria de Óscar que premiasse a melhor “conversa para boi dormir”, com toda a certeza, que, por cá, no Brasil, teríamos sérios candidatos a ganhar o prémio de 2022...

Tudo “grátis” para todos os pobres, espoliados, descamisados e sem terra que, com o PT a gerir as estatais, enganando o povão daquela maneira demagógica e corrupta que todo o mundo conhece, um dia, pobres acabaremos por ser todos nós, sem exceções. Exceto, naturalmente, a cúpula da elite dirigente desse maravilhoso Estado-igualitário de duzentos e dez milhões de pobres no hemisfério sul que nos conduzirá até à falência total como foram os casos na Venezuela ou em Cuba.

Mas um “paraíso” socialista na terra, totalmente “grátis”, é financiado e sustentado exatamente com o quê mesmo?

Com mais impostos ordinários, com mais impostos extraordinários e com mais e mais impostos estratosféricos, pois é claro. Com o que mais haveria de ser? Já nem falo aqui na corrupção endémica que essa parece que nem aconteceu...

Do outro lado temos alguém desprovido de sentido de Estado, sem compaixão para um povo que sofreu com Covid porque não era “coveiro” e com filhos, que apesar de não eleitos para o cargo presidencial, ao longo do mandato do pai, tiveram uma intromissão escandalosa e descarada, com uma óbvia demonstração da arrogância e de poder desmesurado de quem se acha, verdadeiramente dono do Brasil e com uma também constatação insofismável da mais absoluta imoralidade e ausência total de um padrão ético, mínimo que seja, na forma de fazer política que urge denunciar, combater e tudo fazer para, através o Congresso Nacional, corrigir para que não se repita no futuro.

Assim, fui ler as propostas dos dois candidatos que aparecerem mais bem colocados, hoje, nas pesquisas para Presidente da República, nas eleições agendas para o próximo dia 2 de outubro, Jair Messias Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), selecionei três propostas de cada um em áreas diferentes e fiz os meus respetivos comentários. Eis aqui o resultado;

Jair Messias Bolsonaro (PL) 

Emprego

“Avançar na melhoria da infraestrutura nas regiões menos desenvolvidas, de modo a ampliar as oportunidades de investimentos produtivos, permitindo a geração de emprego e renda e o equilíbrio regional do país.” 

Comentário:

Bolsonaro derrubou investimento em infraestrutura e afugentou estrangeiros. Aporte privado não reage apesar de o ex-ministro Tarcísio de Freitas ter listado avanços. Isto porque desde 2018 bilhões de reais em obras públicas foram ancoradas sem nenhuma transparência ou racionalidade. Áreas técnicas de agências reguladoras ocupadas por indicações políticas do governo e de sua base de apoio, referendadas pelo Senado. Piora ainda na ininterrupta dos indicadores de degradação ambiental na Amazônia, com declarado apoio de ministros e do próprio presidente Jair Bolsonaro (PL).

Porquê haveria de mudar agora?

Relações Internacionais

Buscar parcerias comerciais e tecnológicas com aquelas nações que ofereçam respostas às necessidades do País. (...) Com o ingresso à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), estreitar acordos econômicos com nações que são mais desenvolvidas, além de integrar acordos internacionais.” 

Comentário:

O governo de Jair Bolsonaro inaugurou uma inédita direção da política externa brasileira que foi movida exclusivamente por motivações ideológicas, sem compromisso com qualquer concepção de interesse nacional. A ausência desse norte fundamental, que trouxe, no passado, entre outras consequências, uma adesão excessiva, quase totalmente automática e acrítica às decisões e políticas dos Estados Unidos de Donald Trump, coloca o Brasil em posição de grande desvantagem e insegurança em diferentes âmbitos do plano internacional. Expõe, ainda, a incapacidade da atual política externa de lidar com desafios e obstáculos de um sistema internacional que caminha a passos largos para uma transformação estrutural profunda neste século XXI.

O Brasil perdeu a favor da Argentina o seu maior parceiro comercial, a República Popular da China, por causa dumas piadas de gosto duvidoso do deputado Eduardo Bolsonaro e do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub e se perdeu a hipótese de fechar um acordo entre o Mercosul e a União Europeia (que vinha sendo negociado havia anos) porque Jair Bolsonaro achou que era mais importante xingar a mulher do presidente francês, Emmanuel Macron. 

Meio Ambiente

"Oferecer soluçoes sustentáveis dos mais variados sistemas de produção, com especial atenção à agropecuària e fim de substituir ao máximo recursos fósseis e não-renováveis"

Comentário:

Quem teve um ministro do Meio Ambiente, o não muito saudoso Ricardo Salles, que proferiu a frase é famosa: “é preciso aproveitar a pandemia para ir passando a boiada" necessita de mais explicações? Mas, mesmo assim, para os mais esquecidos, faço recordar que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) divulgou no seu último relatório que desmatamento na Amazônia aumentou de 21,97% em relação a igual período do ano anterior. O aumento dos conflitos em terras indígenas a partir do crescimento do garimpo ilegal nos últimos anos esteve entre as principais preocupações de senadores e especialistas que já levaram a que houvesse um debate, em Abril deste ano, promovido pela Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado.

Infelizmente palavras só não chegam e o problema não parece ter fim à vista...

Luiz Inácio Lula daSilva (PT) 

“Combater as desigualdades regionais, fortalecendo o desenvolvimento das regiões e estimulando novas experiências de cooperação e organização territorial.” 

Comentário:

Uma boa parte da pobreza no nordeste brasileiro se deve ao ciclo de chuvas incerto como é sobejamente sabido. Podem ocorrer dois ou três anos bons de chuva e depois podem vir sete anos ruins. Ninguém sabe ao certo no longo prazo. O sertanejo nordestino joga com a sorte e com o azar de não chover e Lula sabe disso até porque nasceu no Nordeste. 

Já, por exemplo, no centro-sul do Brasil chove todos os anos entre setembro e março e mesmo nos outros meses cai um pouco de chuva. Então a fertilidade do solo é bem melhor que no Nordeste, por causa do fator disponibilidade de água.  

Hoje sabemos que fenômenos como o “El Niño” têm um papel preponderante nisso e afeta o clima em escala planetária, donde a preservação do nosso património ambiental não afeta só o Brasil, mas o mundo inteiro. 

A pobreza é uma cadeia perversa que se perpetua. Pais pobres têm pouco conhecimento e condições de vida para legar aos filhos e assim por diante. 

Mas, há regiões no mundo, como Austrália e Israel, em que as condições climatéricas são também difíceis. A Austrália tem também esse problema de ciclos de chuva incertos. Mas, eles conseguiram desenvolver territórios tão desafiadores quanto o sertão do Nordeste e Israel "nada de braçada" na sua agricultura. São sinais de que é possível evoluir naquele clima difícil. 

Ajudaria muito se cada vez que sequer desenvolver um projecto empresarial ou turístico para atrair investimento e criar postos de trabalho nos Estados mais carenciados, não sejam sempre os mesmos movimentos de esquerda a levantar problemas e a impedir a sua viabilização.

Depois reclamam do quê?

Impostos

Fazer os muito ricos pagarem imposto de renda, utilizando os recursos arrecadados para investir de maneira inteligente em programas e projetos com alta capacidade de induzir o crescimento, promover a igualdade e gerar ganhos de produtividade.”

Comentário:

Estou completamente de acordo que é necessária uma reforma fiscal a nível Federal no Brasil. Contudo duvido muito que seja coincidente com aquela que o Lula tem em mente. Na minha opinião, por forma a auxiliar a captar investidores estrangeiros e iniciar um processo de reabertura das unidades fabris que, entretanto, encerraram a sua produção de décadas no Brasil, o que provocou desemprego.

Foi disso exemplo a americana Ford, das suas montadoras que já foram fechadas, em Camaçari (BA), Taubaté (SP) e em Horizonte (CE). Recordo que em outubro de 2019, a Ford já havia fechados as portas em São Bernardo do Campo (SP); já a Mercedes-Benz ameaça fechar a produção de seus veículos no Brasil. O motivo da marca alemã seria o fim dos incentivos federais à produção do ambiente difícil de negócios; já a fabricante japonesa de TVs e câmeras Sony, que fechou sua fábrica de Manaus, com 220 funcionários e vendeu sua produção para a brasileira Mondial, que deve produzir TVs, micro-ondas e aparelhos de ar condicionado. A empresa alegou que o "ambiente de marca e a sustentabilidade dos negócios” a levaram a sair do Brasil; a farmacêutica suíça Roche anunciou, em 2020, o fechamento de sua fábrica com 440 funcionários no Rio em até cinco anos. Em comunicado, afirmou que quer focar em produtos de alta complexidade; a Walmart, o maior grupo varejista do mundo vendeu 80% de sua operação brasileira a um fundo de investimentos. A decisão, segundo a rede americana, foi parte de um ajuste global e não deu mais explicação; a Hooters, a empresa norte-americana encerrou, em 2019, suas atividades no Brasil; e a rede americana de hambúrguer Wendy’s que tinha quatro lojas em São Paulo, fechou suas unidades no Brasil em 2019, mas não informou os motivos dessa decisão.

Continuar com este discurso marxista-leninista cativa o eleitorado, mas não atrai investidor estrangeiro, não cria riqueza, nem desenvolve o país. É só demagogia...

Administração

Assegurar, com base nos princípios do Estado Democrático de Direito, que os instrumentos de combate à corrupção sejam restabelecidos, respeitando o devido processo legal, de modo a impedir a violação dos direitos e garantias fundamentais e a manipulação política.” 

Comentário:

Não ria tanto desde a saudosa dupla do Agildo Ribeiro com o Jô Soares. O que está aqui Lula dizendo? Vai recriar a Lava-Jato? Vai perdoar a Sergio Moro e se for eleito o vai convidar para ser seu ministro da Justiça? Soa meio estranho ouvir, com o devido respeito, de um candidato a presidente da República em relação ao qual a justiça brasileira, em janeiro de 2022, arquivou todos os processos que pendiam sobre ele porque lhe foi reconhecida a prescrição dos casos e não a sua inocência vir logo ele falar de combate a corrupção!

Mais, recordo que o antigo presidente esteve 580 dias preso em Curitiba, porque viu a sua sentença ser confirmada por três instâncias do judiciário brasileiro e não somente por culpa do ex-juiz Sergio Moro como agora a esquerda tanto gosta de dizer.

Em conclusão, mesmo que todo o mundo espere que os candidatos façam, durante a campanha, algumas promessas exageradas, exige-se mesmo assim moderação na narrativa no que toca a mentiras e a teorias conspirativas, porque mais do que a eles, tiram seriedade ao Brasil pois espelham a falta de qualidade da sua classe dirigente.