Naquilo que, para mim, foi mais uma originalidade protocolar brasileira, esta segunda-feira, dia 18 de julho de 2022, no Palácio da Alvorada, em Brasília, o presidente Jair Bolsonaro (PL) convidou cerca de quarenta (40) embaixadores de países com representação diplomática no Brasil para lhes expor uma série de respostas aos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Digo isto, porque em parte alguma do mundo um chefe de Estado se reúne, numa reunião de trabalho, com o corpo diplomático creditado no seu país (isso é uma incumbência de seu Chanceler ou do seu Ministério das Relações Exteriores) para contestar interpretações sobre a Lei Eleitoral dadas por outro Órgão de Soberania...
O chefe do executivo rebateu manchetes de jornais e declarações de magistrados da Suprema Corte e disse que constantemente o tentam "desestabilizar” a ele e ao seu governo. O presidente Bolsonaro falou também sobre a adoção do voto impresso – proposta que já foi rejeitada na Câmara dos Deputados, em agosto de 2021.
O presidente Bolsonaro decidiu realizar o encontro depois de o presidente do TSE, ministro Edson Fachin, participar de um evento com diplomatas sobre as eleições deste ano e o sistema eleitoral brasileiro. O ministro Fachin foi convidado para a reunião desta segunda-feira, mas recusou. Afirmou que o “dever de imparcialidade” o impedia de ir.
Contudo, participaram do encontro, além dos diplomatas, os ministros General Paulo Sérgio Oliveira (Defesa), General Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Bruno Bianco (Advocacia Geral da União) e o presidente do STM (Superior Tribunal Militar), General Luis Carlos Gomes Mattos.
Os diplomatas terão ficado abalados durante a reunião convocada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), na qual aquele colocou em dúvida o sistema eleitoral brasileiro, informou o “The New York Times”. Segundo um dos principais jornais dos Estados Unidos, os embaixadores temem que o presidente Bolsonaro esteja preparando as bases para uma tentativa de golpe, se perder as eleições presidenciais deste ano.
Houve dois embaixadores que, sob anonimato, concordaram em falar com o “The NewYork Times” dizendo que a generalidade dos diplomatas presentes ficaram incomodados após a sugestão de Jair Bolsonaro de que militares devem participar do processo para "garantir eleições seguras”.
Ainda de acordo com o “The New York Times”, o presidente brasileiro fez com que acusações de fraude no sistema eleitoral se tornassem uma questão de política externa, aumentando temores internacionais de que ele pretende contestar as próximas eleições.
O jornal também diz que Jair Bolsonaro "parece estar aderindo ao plano de Donald Trump". Em 2021, o ex-presidente dos Estados Unidos afirmou, sem apresentar provas, que foram contabilizados oito milhões de votos irregulares nas eleições americanas.
Outro importante órgão de comunicação social estado-unidense, “The Washington Post” também repercutiu a reunião de Bolsonaro com os diplomatas. O jornal publicou uma notícia da agência AP que ressalta que o presidente brasileiro não apresentou nenhuma evidência de que as urnas eletrônicas não são seguras.
Ao fim da apresentação de Bolsonaro, houve um breve silêncio enquanto ele estava diante dos embaixadores. Alguns membros do governo começaram a aplaudir e alguns (poucos) diplomatas acompanharam o gesto.
Já o jornal português “Diário de Notícias” informou os seus leitores que os embaixadores presentes no encontro desta segunda-feira com o presidente brasileiro rejeitaram a falta de fiabilidade das urnas eletrónicas, alegada por Jair Bolsonaro, pois consideram se tratar de uma estratégia para desacreditar o sistema eleitoral brasileiro, implantado desde 1996, pelo qual o próprio Bolsonaro, seus filhos e correligionários se fizeram eleger para inúmeras eleições municipais, estaduais, federais e presidencial, a menos de três meses das próximas presidenciais.
Me interrogo e fico muito preocupado com o caminho que este Brasil optou por percorrer.
Vó Ana sempre dizia p’rá mim: “Cê não presta atenção ao que está fazendo, não menino? Desgraça pouca é bobagem!”... e minha Vó tinha sempre razão!