FIM DE UM MITO 

Calado há praticamente 40 dias, Jair Bolsonaro, o presidente brasileiro que perdeu as recentes eleições presidenciais para Lula da Silva, quebrou o silêncio que manteve desde o sufrágio nacional, para proferir umas palavras junto a alguns apoiadores as quais foram para mim no mínimo surpreendentes. A saber; 

"Estou há praticamente 40 dias calado. Dói, dói na alma. Sempre fui uma pessoa feliz no meio de vocês, mesmo arriscando a minha vida no meio do povo", disse opresidente, no Palácio da Alvorada. 

"Alguns falam do meu silêncio. Há poucas semanas, se eu saísse aqui e desse bom dia, tudo seria deturpado, tudo seria distorcido", reclamou o presidente, este fim-de-semana participou em eventos militares no Rio de Janeiro e Brasília, sem que tenha discursado em qualquer um deles. 

O chefe de Estado brasileiro disse ainda ter "a certeza“ de que as Forças Armadas "estão unidas" e "devem lealdade" ao povo brasileiro, bem como "respeito à Constituição". "Quantas vezes eu disse, ao longo desses quatro anos, que temos algo mais importante que a própria vida, que é a nossa liberdade?", questionou. 

"As decisões,quando são exclusivamente nossas, são menos difíceis, menos dolorosas. Mas quando elas passam por outros setores de sociedade, são mais difíceis e devem ser trabalhadas. Eu responsabilizo-me pelos meus erros, mas peço-vos: não critiquem sem ter certeza absoluta do que está a acontecer", acrescentou. 

Haveria seguramente muita coisa a dizer, mas destaco só três pontos deste curto pronunciamento do ainda presidente da república, Jair Messias Bolsonaro:

O primeiro foi para se lamentar dizendo que lhe “dói a alma” por ter perdido as eleições para seu rival. 

Muito curioso, que não lhe tenha “doido também sua alma” quando 690k brasileiros morreram de covid-19 e do presidente da república não ouviram uma só palavra de solidariedade, de comoção, mas antes só de escarnio e desprezo.  

O segundo, também muito curioso, é que ele repete “o meu silêncio” como que quisesse frisar a sua atitude antidemocrática, uma vez que, como é por demais sabido, até hoje, não parabenizou o candidato vencedor (como é normal em democracia) nem tão pouco admitiu publicamente sua derrota. 

Terceiro e último ponto, sem dúvida que eu interpreto estas declarações de Bolsonaro como um "discurso golpista", uma vez que ao continuar sem reconhecer a vitória de Lula da Silva, legitima a mobilização de movimentos antidemocráticos que continuam se manifestando à margem da lei por todo o país. 

Em conclusão: afinal o “mito” só se lamenta e apela à solidariedade para si, aquela que nunca deu aos outros; não tem o mínimo respeito pela ordem democrática, muito pelo contrário porque tem laivos de “tiranete”; e diz defender a constituição brasileira mas compactua com a desordem pública e com o desrespeito da norma constitucional demonstrado nestes dias por seus apoiadores. 

É só triste...