Ontem, dia 5 de setembro, lendo o jornal online “o Antagonista” me deparei com um artigo de opinião, da autoria de Rodrigo Natali, estrategista-chefe na Inv Publicações, cujo título era “5 razões para você NÃO ir à Europa” ... como não podia deixar de ser fui logo ler.
Depois de fazer uma série de considerandos sobre as consequências catastrofísticas que advirão para a União Europeia do corte de fornecimento de gás anunciado pela Federação Russa (como se esta fosse a única fornecedora dessa “commodity” em todo o planeta), compara as quedas (em média de 10%) das bolsas de valores europeias (?) com o Brasil, os EUA e o Japão... isto só hilário!
Próprio de quem vive longe do foco dos problemas, mais exatamente a 11.800 km, que é a distância mais curta (via aérea) entre Moscou e São Paulo!
Obviamente, segundo este expert, todo este apocalipse se deve e passo a citar a um “resultado da invasão da Ucrânia, mas, principalmente, por algumas posturas que foram tomadas pelos políticos europeus que escalaram o conflito, abrindo espaço para consequências incertas”.
Só lamento, que tendo escrito este paragrafo a negrito sendo um graduado e tendo até um MBA pela Fundação Getúlio Vargas, o Dr. Rodrigo Natali não nos tenha esclarecido de quais foram, em sua opinião de expert, essas tais “posturas que foram tomadas pelos políticos europeus que escalaram o conflito”?
Enfim...
Mas, passemos aos cinco (5) motivos invocados pelo autor, pelos quais não se deve ir agora à Europa, a saber;
1) Preço das coisas – o autor fala da inflação mais alta dos últimos 40 anos, que ronda os 9,2%. Efetivamente a taxa de inflação na Zona Euro chegou aos 8,9% em julho, muito motivada pelo encarecimento dos preços dos produtos energéticos (um aumento de 4,02 pontos percentuais). Segue-se a alimentação, álcool e tabaco (mais 2,08 pontos percentuais), os serviços (mais 1,6 pontos percentuais) e os bens industriais não energéticos (mais 1,16 pontos percentuais). Contudo eu destacaria que o € 1 cotou, hoje, R$ 5,12.
2) Frio – eu sei que o Dr. Rodrigo Natali vive em São Paulo e que a maioria do Brasil é um país tropical, mas vir falar de frio a um Catarinense só pode ser mesmo piada. Eu, no Rio de Janeiro, já apanhei temperaturas de 12 graus centigrados este ano e lá consegui sobreviver.
3) Comida – para além do preço absurdo que os bens alimentares poderão vir a atingir, prevê também a sua escassez de alimentos ditos normais. O que levaria, nesse caso, o brasileiro a ter de se alimentar de géneros com os quais não estaria tão familiarizado. Não sei se o autor se refere aquelas coisas que os tugas comem, lá pela Terrinha, como caracóis, arroz de cabidela ou percebes...
4) Logística – o autor receia que o preço dos combustíveis possa ser impactante para quem se desloque à Europa, como se não existisse hoje insatisfação na população brasileira com o elevado preço dos combustíveis pelo fato da Petrobras ter deixado de atender mais à sua função social, ou seja, a de fornecer combustíveis a preços acessíveis à população do nono maior produtor de petróleo do mundo: o Brasil.
5) Riscos geopolíticos – com uma alusão mal conseguida entre ir, ou não ir, esquiar para os alpes, deixa antever os receios de uma possível guerra alargada no continente europeu. O que é só absurdo! É preciso não esquecer que se a Federação Russa é das principais potencias militares mundiais (o que não se nega), mas a OTAN não é propriamente um grupo de moleques. Se a Rússia é uma potência nuclear, a França e o Reino Unido também o são (já para não falar dos Estados Unidos) ...
Logo, em alternativa á interpretação feita pelo Dr. Rodrigo Natali do Apocalipse segundo São João, eu teria preferido, por exemplo, que ele me tivesse indicado quais são os dez (10) hábitos brasileiros que enlouquecem os portugueses.
Isso sim seria muito mais útil. Razão pela qual deixo aqui uma minha sugestão. A saber;
I. Entrar numa loja em Portugal e perguntar alguma coisa para o vendedor sem antes o cumprimentar com pelo menos um bom dia, boa tarde, boa noite ou com licença;
II. Chegar num restaurante e sentar antes de ser rececionado por alguém à porta;
III. Ficar chamando desesperadamente o garçom com a mão levantada, estalo de dedos ou expressões do tipo “moço, chefe, campeão ou meu chapa”;
IV. O “claro, sim, vamos combinar, vamos fechar negócio” com a maior empolgação, seguido de um sumiço sem satisfações está fora de questão se não quer ver um português ofendido;
V. A falta de capacidade que brasileiro tem de dizer não;
VI. A mania do brasileiro de forçar amizade, com tapinha nas costas do vendedor, abraço no garçom e até cumprimentar com beijos quem não é amigo de verdade, provocam um inevitável recuo de surpresa por parte do tuga;
VII. A imitação do sotaque luso os leva ao rubro;
VIII. Chamar Portugal de “Terrinha” eles não consideram afetuoso, mas antes insultuoso;
IX. A mania de comparar tudo com o Brasil e geralmente criticando o que é português;
X. O tom de voz, sempre (muitos) decibéis acima do que é considerado normal na Europa.