Sergio Moro (União Brasil) conquistou uma das cadeiras do Senado Federal e Deltan Dallagnol (Podemos) uma da Câmara dos Deputados, ambos pelo Estado do Paraná. Os dois foram alavancados pela Operação Lava Jato e quer o ex-juiz, quer o ex-procurador da investigação, respetivamente, já declararam o seu apoio ao atual presidente Jair Bolsonaro (PL) contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o segundo turno.
Nesta terça-feira, após saber deste apoio, Bolsonaro elogiou Moro e disse que já havia conversado por telefone com o seu antigo ministro da justiça e ter "certeza de que Sergio Moro será um grande senador". Mais, declarou também "Olha só, todos nós evoluímos. Eu mesmo errei no passado em alguns pontos e a gente evolui para o bem do nosso Brasil.”
Aparentemente só eu é que não evoluo! E mantenho tudo aquilo que escrevi numa crónica intitulada “Roma não paga a traidores", publicada neste blogue, a 18 de Março de 2022, em que escrevi “o “herói” da 13ª Vara Federal de Curitiba (...) não é de admirar não, porque há aqui sempre um padrão que não passa despercebido, a saber, a sua ambição política desmedida e a falta de carater” e mais adiante continuei dizendo, “Mas, Moro não resistiu à ganância de poder e de protagonismo (...)”.
Já quanto a Lula da Silva, este recebeu o apoio para o segundo turno da terceira candidata mais votada na primeira volta das eleições do Brasil, a senadora Simone Tebet, que se candidatou pelo Movimento Democrático Brasileiro.
Também Ciro Gomes, o quarto candidato mais votado e o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso, anunciaram já que apoiam Lula da Silva nas eleições do próximo dia 30 de outubro.
Porém e mais importante que tudo isso, daí a esquerda brasileira estar em estado de choque, os resultados do primeiro turno das eleições gerais do passado domingo, dia 2 de outubro, demonstram claramente que o “bolsonarismo” se enraizou na sociedade brasileira e, que mesmo que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venha a ser eleito presidente (o que não é evidente) enfrentará um "terceiro turno" durante 4 anos diante um Congresso hostil ao seu governo.
O futuro em qualquer dos casos, para ambos os candidatos não se me afigura fácil. Vou dar só dois exemplos:
O atual presidente Jair Bolsonaro no capítulo das Relações Externas diz que vai “estreitar acordos econômicos com nações que são mais desenvolvidas, além de integrar acordos internacionais.” E eu pergunto quais? Atendendo que disso depende a balança comercial do Brasil e a diminuição da taxa de desemprego...
Recordo que ainda no passado dia 30 de Setembro, o Brasil, a China, a Índia e o Gabão foram os únicos países que se abstiveram na votação realizada no Conselho de Segurança da ONU que condenava a anexação de territórios da Ucrânia pela Rússia. A proposta foi levada ao Conselho pelos Estados Unidos e pela Albânia, mas foi vetada pelos próprios russos. A resolução visava condenar Putin pela anexação das regiões da Ucrânia do Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia, alegando fraudes e falta de transparência no referendo realizado há umas semanas.
Ou seja, o Brasil de Bolsonaro se posiciona contra os Estados Unidos e contra a União Europeia numa guerra que a Rússia está perdendo na Ucrânia e em que ameaça usar bombas nucleares contra o Ocidente. Mas depois diz “que vai fazer acordos”?
Já Lula da Silva repete até à exaustão aquilo que seus apoiantes querem ouvir, como, por exemplo na Economia, que se for eleito irá “criar as condições para negociar as dívidas (da população), seja com os empresários do setor de varejo, seja com a prefeituras e estados no gás e na luz, ou com os bancos. Se o povo não tem poder para consumo, a economia não cresce.” ou recriar o Ministério da Previdência Social e modernizar o sistema previdenciário quando diz que “A Previdência pode ser muito melhor se ela for humanizada. Então é preciso que a gente assuma o compromisso com vocês, mas sobretudo o compromisso com aqueles que não estão aposentados ainda, que vão se aposentar, de que essas coisas têm que mudar no país.”
E eu só questiono uma coisa: como irá ele fazer isso, durante os próximos 4 anos, com as duas Camaras do Congresso sabotando tudo aquilo que ele planejar fazer?
Infelizmente o discurso do ódio não foi só exclusivo da direita e levou a esta bipolarização com que hoje o país se depara. Mesmo que Lula venha a ganhar o segundo turno (o que não se me afigura fácil) vai ter um Congresso contra ele. Logo se seguirão 4 anos de estagnação para o Brasil, mais uma vez!
Isso é um fato!
Apesar de minha Vó Ana ser da Igreja Pentecostal, citava-me muito uma frase de Santo Agostinho; “Não há santo sem passado e não há pecador sem futuro"...