Se tiver de fazer um primeiro balanço daquilo que foram as eleições do passado domingo, dia 2 de Outubro, começaria por afirmar que as pesquisas julgaram mal a força dos candidatos conservadores em todo o país.
Eu saliento a disparidade entre as pesquisas de intenção de voto, que mostraram, mês após mês, consistentemente que Jair Bolsonaro perderia e perderia feio e o resultado nas urnas.
Mais, com 48,43% dos votos, Luiz Inácio Lula da Silva, antigo presidente da República de 2003 a 2010, tem cerca de quatro pontos e meio de vantagem em relação ao atual presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, que obteve uns surpreendentes 43,20%.
Para muitos brasileiros o impensável aconteceu, a esquerda está em negação, porque o segundo turno esfriou muito os ânimos!
Tentam arranjar um fraco consolo no fato de Lula estar à frente de Bolsonaro para o segundo turno da eleição presidencial, a ocorrer em 30 de setembro, e também por determinadas “personagens de direita” terem falhado a eleição como foi o caso de Alexandre Frota, Joice Hasselmann, Janaina Paschoal, Marcos Pontes, Sérgio Camargo, José Serra, Eduardo Cunha, Antonia Fontenelle ou Adrilles Jorge.
A isso se chama de “Vitória de Pirro” ...
Temos de considerar que o número de deputados reeleitos na votação de domingo, dia 2 de outubro, foi o maior desde 1998 e que o PL de Jair Bolsonaro levou vantagem com a maior bancada na Câmara e no Senado a partir de 2023. A meu ver efeitos de um combo que inclui a mudança na legislação eleitoral, o financiamento público bilionário de campanha e a imposição do orçamento secreto.
Logo, em minha opinião, o resultado desta eleição aponta claramente para o implosão do “velho mundo” político brasileiro e do surgimento do "Bolsonarismo".
Já Lula da Silva, que está com 76 anos, não tem sucessores dignos desse nome no Partido dos Trabalhadores e ele ficou cercado por uma massa gigante de direita e de conservadorismo. Se se tirar Lula da equação para defrontar Bolsonaro sobra quem? Ninguém!
Mesmo que Lula ganhe as eleições presidenciais – o que não é tão evidente assim – como irá ele lidar com um Congresso que não lhe é favorável? Ao passo se Bolsonaro conseguir vir a ser reeleito, obviamente, que quem ficará isolado desta feita será o STF.
Outro dado que eu gostaria de desconstruir é o preconceito de quem é de direita é racista, porque em 2022, os partidos que mais elegeram candidatos autodeclarados negros ou que se identificam como pardos ou pretos para a Câmara dos Deputados são de direita. A saber;
Dos 135 deputados eleitos desse grupo, 25 fazem parte do PL, sigla do presidente Jair Bolsonaro, que disputará o segundo turno presidencial com o ex-presidente Lula da Silva (PT).
Em seguida, temos os partidos Republicanos e União Brasil, também considerados de direita, tendo o primeiro elegido 20 deputados registrados como negros, enquanto o segundo elegeu 17.
Já os representantes da esquerda, nomeadamente do PT surgem só em quarto lugar, com 16 cadeiras negras conquistadas.
Em seguida, estão novamente os da direita do PP, com 15.
O centrão também entra na conta, com o MDB elegendo 8 deputados autodeclarados negros, seguido de PSD com 6 e do Podemos com 5.
O Avante e o Pros garantiram 2 cada e Solidariedade somente 1.
No campo mais à esquerda, PDT garantiu 6 cadeiras, seguido de PC do B com 4, PSB e PV com 2 cada e a Rede com 1 representante.
Por sua vez, Cidadania, Novo, Patriota, PSC, PSDB, PTB não elegeram nenhum deputado pardo ou preto.
Mas, tirando esta curiosidade, verificamos que o atual panorama é o resultado da radicalização do discurso político que resultou na bipolarizarização. Quem acompanhou as minhas crónicas, ao longo destes últimos meses, sabe que a bem do Brasil e dos brasileiros sempre defendi a terceira via, mas infelizmente nunca houve espaço para que ela surgisse.
Agora, houve quem desse por adquirido que o Lula iria ganhar fácil e isso sempre foi para mim botar a carroça na frente dos bois!
Vó Ana sempre me dizia: “Você já viu uma carroça andando ao contrário, com os bois atrás? Cê, menino, precisa fazer cada coisa no seu tempo e não cantar vitória no antecipado porque se não se pode dar mal!”