NÃO QUEREM FALAR DO “HOLODOMOR, POIS NÃO?

“Holodomor” é uma palavra ucraniana que significa “morrer à fome” ou “morrer de inanição”. Tal termo passou a ser empregue para designar um período específico da história ucraniana, mais concretamente para caracterizar os acontecimentos que levaram à morte por fome de milhões de ucranianos, entre os anos de 1931 e 1933. Grosso modo, o "Holodomor”, do mesmo modo que o Holocausto nazista contra os judeus, consistiu num genocídio contra a população da Ucrânia, levado a cabo de forma deliberada e sistemática pelo comunismo soviético, que era à época liderado pelo Tovarich Josef Vissarionovich Stalin.  

Como eu não sou a Manuela d'Ávila ou o Guilherme Boulos, logo não brinco com assuntos sérios, nem me baseio em “achismos”, vou tentar sintetizar os factos históricos. Assim;   

Ao contrário das profecias de Karl Marx, o primeiro país do mundo onde a revolução chegou, a Rússia, era uma nação maioritariamente composta por camponeses e não por operários, logo, numa perspectiva estritamente marxista-leninista a classe proletária era reduzida em termos percentuais.

Havia, pois, necessidade de industrializar e lançar as sementes para que a ditadura do proletariado "criasse os seus frutos" sob pena do socialismo cientifico não passar dum mera teroria ou, quanto muito, a transformar-se numa quimera. Num ensaio escrito na New York Review of Books, Sherhii Plohky, director do Harvard Ukranian Research Institute, explica como Stalin e Vyacheslav Molotov assinaram uma lei, em 1932, que visava utilizar os cereais que eram produzidos na Ucrânia e no Cáucaso como "moeda de troca" comercial a ser utilizado junto de países estrangeiros por forma a possibilitar a compra de maquinaria indispensável à industrialização da União Soviética.   

Como é do conhecimento público, os solos destas áreas geográficas (ainda hoje) são extremamente férteis e rentáveis, daí a sua escolha pelo sucessor de Vladimir Ilyich Ulianov, para passarem a ser o centro cerealífero da União Soviética. À boa maneira comunista, a lei continha, muito naturalmente, um conjunto de provisões penais sobre o que poderia acontecer aos tovariches ucranianos caso não conseguissem cumprir a respectiva quota de produção: prisão e execução sumária... simples!   

No entanto, e ainda segundo a mesma lei, Josef Stalin procurava ainda a “sovietização” da Ucrânia, posto de outra forma, a eliminação “tout court” das elites políticas e económicas de origem ucraniana e a sua substituição por quadros russos, garantindo assim uma indiscutível fidelidade política. O que, convenhamos, até parece lógico numa perspectiva stalinista!

O problema residiu no facto dos camponeses ucranianos – idiotas - terem resistido em força à coletivização da sua economia, não conseguindo assim cumprir a quota de produção imposta pelo Kremlin. Josef Stalin, louco paranoico, convenceu-se que os camponeses escondiam a sua própria produção de cereais e a sua reação foi o  envio de tropas soviéticas, as quais tinham como ordens fiscalizar todos os campos de produção e obrigar, pela força se necessário fosse, os camponeses ucranianos a entregar toda - repito, toda - a sua produção para que fosse consignada à URSS.

O desfecho foi dramático: não sobrou absolutamente nada para os camponeses comerem. Começou assim aquilo que literatura descreve como a "Grande Fome Ucraniana" ou “Holodomor”.   

Para quem quiser aprofundar conhecimentos sobre este tema, recomendo vivamente a leitura de um livro da autoria do Prof. Robert Conquest, Professor de História Russa em Stanford, "The Harvest of Sorrow: Social Colectivization and the Terror-Famine”, da Oxford University Press (1986).