Anteontem, quarta-feira, dia 7 de setembro, data que se comemorava o Bicentenário da Independência, não necessitei de ouvir os pronunciamentos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB), para verificar que a postura de Jair Bolsonaro (PL) e o teor de seus discursos, em Brasília e no Rio de Janeiro, misturaram os eventos cívicos com a campanha eleitoral.
Também não é de admirar! Se Bolsonaro nunca demonstrou qualquer sentido de Estado, porque é que iria começar logo agora?
Bolsonaro iniciou o dia em Brasília onde assistiu ao tradicional desfile militar que todos os anos celebra a Independência, na Esplanada dos Ministérios, muito perto do presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, nada dizendo sobre a independência, mas tecendo verdadeiros elogios à sua mulher que o acompanhava, a chamando de sua "princesa” e não poupando críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) com quem nos últimos tempos tem tido uma relação, no mínimo, tensa.
Mais uma vez, todo o Brasil assiste ao presidente da República a desconsiderar o presidente luso, Prof. Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, colocando um chefe de Estado de um País com quem temos laços históricos fraternos ao lado de um empresário que está sendo investigado pela justiça brasileira, o presidente da Havan, Luciano Hang, o que constitui (mais) uma verdadeira afronta diplomática a Portugal. Em relação ao fato da desconsideração feita ao Vice-Presidente da República do Brasil, ao tê-lo colocado do outro lado, longe de si, já nem vou falar.
Entretanto, já circula pelas redes sociais de todo o mundo a parte em que, durante o seu discurso, o presidente Jair Bolsonaro puxou um coro de “imbrochável” de seus apoiantes.
Não só para mim, como para os especialistas, a expressão corresponde a um modelo masculino há muito ultrapassado e que tenta mostrar superioridade face à mulher. Já não é a primeira vez que Bolsonaro recorre a este tipo de piadas típicas de “tiozão de churraco", o que é lamentável se tratando de um chefe de Estado!
Em Portugal, a maioria dos órgãos de comunicação social destacaram em suas páginas iniciais a “vulgar referência sexual” feita pelo presidente brasileiro, explicando a palavra como “termo calão para designar um homem sexualmente viril”.
Também mencionaram o fato do presidente da República português ter dito que “continua confortável” com a sua participação nas comemorações oficiais do Bicentenário da Independência do Brasil, ao lado do Presidente (e candidato!) Jair Bolsonaro, mesmo depois de ter ficado numa fotografia atrás de uma bandeira do Brasil adulterada na qual, em vez das estrelas do brasão central com a faixa “Ordem e Progresso”, está um bebé e duas frases: “Brasil sem aborto” e “Brasil sem drogas”.
Depois das cerimónias em Brasília (DF), o presidente Bolsonaro pegou o avião para o Rio de Janeiro para assistir a um show aéreo, exibição de pára-quedistas e comícios de torcedores em motocicletas e jet skis na icônica praia de Copacabana, na cidade maravilhosa.
Em um discurso inflamado para um mar de apoiadores vestidos com o verde e amarelo da bandeira, o ex-capitão do Exército denunciou as pesquisas da Datafolha – cuja última o mostra atrás de Lula com 45% a 32% – como “uma mentira”.
No Rio, ele chamou Lula, de “quadrilheiro” e disse que “esse tipo de gente tem que ser extirpada da vida pública”, aludindo às polêmicas acusações de corrupção que levaram o ex-metalúrgico à prisão de 2018 a 2019.
O ex-presidente Lula da Silva, respondeu no Twitter, acusando Bolsonaro de sequestrar as festividades do bicentenário: "7 de setembro deveria ser um dia de amor e união para o Brasil. Infelizmente, não é isso que está acontecendo hoje", escreveu. "Mas tenho fé que o Brasil vai reclamar sua bandeira, sua soberania e sua democracia." concluiu.
Eu só tenho pena que uma comemoração tão importante como o Bicentenário da Independência tenha sido transformada num vulgar ato eleitoral e que fique marcada por “fait divers”...
Uma vergonha!