Há na atual situação que se vive na Europa um certo "dejá vu", que me faz lembrar o após o “Anschluss,” quando a 15 de Março de 1939, Adolfo Hitler invadiu a Thecoslováquia. O pretexto então alegado foram as privações sofridas pelas populações de origem germânica que viviam nas regiões norte e oeste da fronteira da Chéquia, conhecidos como Sudetas. Oskar Schindler, espião e membro do Partido Nazista, que salvou da morte 1.200 judeus durante o Holocausto, empregando-os nas suas fábricas de esmaltes e munições, localizadas na atual Polónia era um sudeta... sounds familiar?
Para mim não tenho a menor dúvida que o colapso da antiga União Soviética, produziu uma confusão geopolítica monumental. Em apenas quinze dias, o povo russo, que de um modo geral estava menos informado do que o mundo exterior à ex-URSS, descobriu que deixara de ser "dono" de um império transcontinental e que as fronteiras da Rússia haviam sido reduzidas para onde haviam estado no Cáucaso, no início dos anos 1800 e mais dramático e doloroso que isso foram as fronteiras do lado ocidental, as quais se viram reduzidas para onde estiveram logo após o reinado do Czar Ivan o Terrível, aproximadamente nos anos 1600. Uma vergonha nacional...
Com a fragmentação da ex-União Soviética e consequente redução das fronteiras russas, houve uma crescente desvalorização do 'status quo' da Rússia na região e no cena internacional, e com a renúncia de Gorbatchev e a ascensão de Yeltsin ao poder, este se depara com uma situação de grande fragilidade tanto a nível doméstico, mas sobretudo no plano externo, devido às reformas de Gorbatchev terem sido excessivamente liberais, as célebres "perestroika, glasnost e a linha de novo pensamento.”
O Ocidente rejubila... mas os Russos nem tanto!
Eis que surge na cena política um de tal Vladimir Putin, um ex-Tenente-Coronel do KGB, que vai passar a liderar o processo da reformulação da política externa russa e até do renascimento da Rússia como uma grande potência.
A Rússia no contexto pós-Guerra Fria se encontra isolada e com um estatuto reduzido, devido ao desmembramento da ex-União Soviética e das políticas desajustadas de Yeltsin e de Kozyrev. Mas, Putin devolve-lhe as suas aspirações imperiais Czaristas e a Rússia procura se afirmar como a potência dominante na Eurásia, passando assim a prosseguir com uma política externa assertiva, pragmática e multivectorial.
Jair Bolsonaro defendeu há pouco, durante a sua live semanal, as relações do Brasil com a Rússia e chamou de “parceiro” o presidente Vladmir Putin. Para variar em "contra mão" com a maioria do resto do Mundo que censuram e ostracizam o presidente russo.
Recordo que há umas escassas semanas, após a lamentável visita de Estado do presidente brasileiro a Moscou, em que o negacionista Bolsonaro se sujeitou a colocar máscara e a fazer cinco (5) testes PCR's, impostos pelo FSB (serviços secretos russos), para se poder avistar com Putin, os mesmíssimos testes PCR's que horas antes o presidente francês, Emmanuel Macron e o novo chanceler alemão, Olaf Scholz, se haviam recusado a fazer e foram recebidos na mesma pelo presidente russo.
"Putin sinaliza recuo na Ucrânia” ou “presidente Bolsonaro evita a 3.ª Guerra Mundial”... é esta a mensagem que, entre outros orgãos de comunicação social brasileiros, a CNN Brasil noticiou que o chefe de Estado do Brasil teria convencido o presidente da Rússia a não invadir a Ucrânia. Foi, lamentavelmente, aquilo que não se veio a passar poucos dias depois...
Putin não quer e nem pretende ser o depositário da humilhação russa pos-perestroika. Por sua vez, o povo russo que se encontrava espezinhado, devastado e humilhado pelo Ocidente, através do seu punho de ferro, Putin corporiza a ideia paternalista e protetora na Rússia. O povo russo, em Putin, encontrou o "paizinho" protetor.
E quem não entendeu isto, então não sabe nada de nada daquilo que representa a Santa Mãe Rússia no xadrez internacional! Jair Bolsonaro manifestamente não alcançou... o que, para ser totalmente honesto; não me espanta nada!
Finalmente, afinal, o que tem a ver esta trágica guerra, lá na Europa, com a vida de nós brasileiros? Tem tudo a ver infelizmente! Com este conflito a principal linha de abastecimento de gás natural russa, que supria as necessidades da maioria dos países do centro da Europa (Alemanha, Países Baixos, França, Itália, República Tcheca, Polonia, etc) tem vindo a ver reduzido o seu fornecimento, como forma de sanção à Rússia (já que assim lhes pagam menos dinheiro, indo comprar gás em outros sítios) fazendo com que o valor das “commodities” energéticas, vg preços do gasóleo e da gasolina dispararem também em todo o mundo... Brasil incluído!
São as leis do mercado fucionando: quanto menor o preço de um produto, maior é a quantidade da demanda. Quanto maior o preço de um produto, maior é a quantidade da oferta.
Minha Vó sempre dizia, quando se zangava comigo: “Menino, você está cutucando onça com vara curta”... e minha Vó tinha sempre razão!