Porque prometido é devido, e eu odeio faltar à minha palavra, hoje irei falar de algumas características comportamentais por parte dos portugueses que tiram qualquer pessoa sério (pelo menos a mim fazem-no). Já que ninguém é perfeito, haverá outras, porém selecionei aquelas seis que, para em minha opinião, considero serem as principais. A saber;
1. O “Chico Esperto” – O português venera o “chico-esperto”, aquele que consegue engendrar um esquema qualquer para enganar o sistema. Em qualquer país civilizado este “espécimen” é censurado e MUITO BEM porque, com as suas atitudes, prejudica o grupo, o bem estar colectivo, é intrinsecamente egoísta e só pensa em si. No fundo despreza o seu semelhante! Mas por cá, estranhamente, ao contrário, é admirado! É aquele que “sabe como fazer para não ter que pagar impostos”, mas que depois vem a exigir mais do Estado, porque no fim de contas “o que eles querem todos é “tacho””; é o que nunca estudou para os exames, porque copiava sempre pelo “marrão” da turma; é aquele que estaciona em 2ª ou até em 3ª fila, interrompendo o tráfego todo, porque ou “está a trabalhar” ou porque “são só cinco minutinhos”, ou o que passa na frente da fila, duma qualquer Repartição Publica, com dezenas de pessoas, que esperam há horas, porque vai "fazer só uma perguntinha”... ele diz, para quem o quer ouvir que “o mundo é dos espertos”...
2. O “Xénofobo” – Tenho que confessar que tenho um especial carinho por este tipo de “tuga”. Se se considerar que Portugal tem uma diáspora espalhada pelos “4 cantos do mundo”, que se calculava, em 2017, em cerca de 2,3M segundo o relatório estatístico divulgado pelas Nações Unidas, achar que este “jardim à beira-mar plantado” é para exclusivo uso dos portugueses é, no mínimo, pouco inteligente, "pour dire la moindre des choses”. Não resisto a partilhar esta “pérola”; há dias um “grunho” ao saber que eu (também) era brasileiro mandou-me “regressar para a (minha) terra!” e eu respondi-lhe: “A sério!? Ok, mas vai ser triste, porque adorava viver em Cascais há 31 (trinta e um) anos e ao fim deste tempo todo, vai ser duro para mim ter de regressar... ao Porto!”
3. O “marcar” o lugar – Se eu tivesse que dar o Óscar para a pior característica do “Zé Tugão” esta seria - de longe - a minha preferida... o marcar o "lugarzinho", para a “esposa”, para os cunhados, para o “rebento”, para a namorada do “rebento" que se chama Katia Susete, para a avozinha, para a prima que chegou ontem da terra e que vai ficar lá em casa uma semana e para o colega do serviço que está deprimido porque a mulher o “ornamentou” com o Personal Trainer da academia onde ela ia. Eu, provavelmente, por falta de mundo, não conheço mais nenhum pais em que se “guardam lugares”; desde do espaço de estacionamento no parque do supermercado, deixando lá a sogra especada, enquanto o “chico-esperto” vai dar a volta ao parque no seu Citroën C3, azul metalizado, todo “artilhado”, na fila do pão da padaria enquanto se vai fazer mais umas compritas, até aos lugares na faculdade para se copiar à "vontadinha" com recurso aos "auxiliares de memória" (porque o “urso” do Professor não vê nada. NB: VÊMOS; SIM, OK!?)
4. O Linguista – Adoro - melhor estou a aplaudir de pé - todo aquele português que te que diz que aqueles que chegam e/ou vivem em Terras de Vera Cruz falam “brasileiro”. Apesar de muitas das vezes só terem um 12º ano mal tirado, dão-nos autenticas aulas de glossologia portuguesa como se do Jorge Amado do Morro do Alemão se tratassem ou discorrem sobre a pureza da glotologia lusa como se tivessemos perante a Clarice Lispector de Belford Roxo. Aliás, quando leio “em estrangeiro” autores como, Monteiro Lobato, José de Alencar, Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade (decididamente um dos meus favoritos), Machado de Assis, João Cabral de Melo Neto, Graciliano Ramos, Mario Quintana, Guimarães Rosa, Chico Buarque de Holanda, Nelson Rodrigues, Vinicius de Moraes (outro génio), Adélia Prado, Martha Medeiros, Conceição Evaristo, Marçal Aquino, Antônio Prata, Veronica Stigger ou Aguinaldo Silva e outros... tantos outros, recorro forçosamente sempre ao “Google Traductor”, caso contrário não irei entender nada. Estes resquícios de algum salazarismo bafiento que resistem, ainda, na mente de alguns "do orgulhosamente sós” é algo que eu não consigo entender. Preferem permanecer (só) 10M a falar um português amorfo e estático a ter de assumir que autocarro também se diz “ónibus” ou que “celular” significa telemóvel e que "gramado" é sinónimo de relvado e que agora passámos a contar com mais de 220 milhões de falantes e que, inclusivamente, somos a 7ª língua do mundo mais falada por pessoas nativas, enquanto língua materna, de acordo com dados divulgado pelas Nações Unidas. A título meramente de exemplo, comparativamente com o francês que só é falado por 77 milhões de pessoas nativas.
Finalmente, eu também não entendo nada do que um açoriano da Vila de Rabo de Peixe diz e da última vez que verifiquei (há 5 minutos) a Ilha de São Miguel, Região Autónoma dos Açores, ainda era uma parte integrante da República Portuguesa.
5. O “Bacoco” – aquele português que, provavelmente nunca (ou no minimo só por uma ou duas vezes) saiu “cá do burgo”, defende ainda o “terra planismo” ou que Portugal é o centro do Universo. Passo a explicar, é aquele compatriota que fica todo amofinado pelo ignorante do norte-americano não saber que a capital de Portugal não é Madrid e que nós não somos uma província de Espanha, ao passo que ele – pessoa sapientíssima – sabe perfeitamente que a capital dos Estados Unidos da América do Norte se situa em Nova Iorque ou que a capital da República Federativa do Brasil é o Rio de Janeiro. Digo mais, em cultura geral, a ele ninguém o bate, fala inglês qual Zézé Camarinha; “Yes, yes Miçe ai dó!” e francês como o Camarada Mário Soares; “Ó franciú queres vender u espingardu?”.
No que toca a História de Portugal então é uma enciclpopédia, (esta "estória" é verídica. Trata-se de uma resposta dada por um aluno do 1º ano do curso de Direito numa prova de oral na Cadeira de História de Direito, em que eu era “Asa” e em que eu queria que ele falasse da “Lei da Boa Razão”);
Pergunta minha: Sabe quem foi Sebastião José de Carvalho e Melo?
Resposta do Aluno: Sei sim! Era o melhor amigo do Marquês de Pombal.
Eu: (boquiaberto)
Aluno continua: Inclusive havia o líder a oposição ao Marquês de Pombal que se chamava Conde de Oeiras. Documentos recentemente descobertos revelam que, infelizmente sem sucesso, Sebastião José de Carvalho e Melo tentou promover a reconciliação da amizade do Marquês de Pombal com o Conde de Oeiras!
Eu (a tentar conter o riso): Muito obrigado. Está chumbado!
6. Terra de Doutores & Engenheiros – Cada vez menos é um facto, felizmente, mas Portugal ainda continua a ser um país em que “para se ser alguém” (ou pelo menos a pensar-se que assim é) se tem que ostentar um Dr. ou um Eng. antes do nome. Para que se saiba, tenho a 4ª classe, mas fi-la "honradinha" e sem quaisquer batotas! Não fui como aqueles outros Senhores, cujos nomes agora não se me ocorrem, mas que ainda no ano passado, havia um Secretário de Estado do XXII Governo Constitucional a ser tratado por Mestre, sem ser detentor do respectivo grau académico. Quem não!? Já para não mencionar aquele outro que fazia exames de inglês técnico aos domingos e o meu favorito, lógico, um outro que obteve uma licenciatura por equivalências em "danças e cantares regionais"... esse então para mim foi top! Frases como, “mas sabe com quem está a falar?” ou “vou ver, Sr. José, se a Senhora Doutora agora o pode atender...” colocam-me no meu devido lugar.
Fazem-me perceber que, até eu comum mortal, de quando em vez, tenho acesso ao Olimpo... mas só de quando em vez!