Na passada terça-feira, dia 20 de setembro, o presidente Jair Bolsonaro (PL) discursou na 77ª edição da Assembleia-Geral da ONU, em Nova Iorque, e foi o primeiro Chefe de Estado a abrir o evento, como é o costume do Brasil há já 67 anos.
Contudo, antes do discurso, o presidente tinha uma reunião privada com o secretário-geral da ONU, o português António Guterres, mas a reunião não aconteceu por falta de um carro que levasse o presidente do hotel onde a delegação brasileira se hospedara até ao edifício da ONU onde o secretário-geral Guterres o estava esperando.
Aparentemente, de acordo com a agenda do Itamaraty, a saída do presidente Bolsonaro do hotel estava prevista para 8h20 (9h20 do horário de Brasília), para que chegasse pontualmente na reunião às 8h40. Porém, ao deixar o hotel, o presidente foi por cerca de 40 apoiadores eufóricos que embarreirando sua passagem e depois também não havia nenhum automóvel disponível para levá-lo ao evento.
Apesar da rua atrás do hotel estar parcialmente fechada, contar com forte presença de pessoal e de automóveis do serviço secreto americano, não havia nenhum carro para levar o chefe de Estado brasileiro.
Gringo não sabe mesmo o que é “dar o jeitinho” brasileiro...
Além disso, parece que a primeira-dama, Michelle e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o coordenador de comunicação da campanha de Bolsonaro à reeleição, Fabio Wajngarten e o ministro das Comunicações, Fábio Faria, que faziam parte da comitiva brasileira estavam atrasados na saída do hotel.
Horário não é mesmo para ser cumprido...
A habitual baderna que já havia ocorrido dias antes em Londres, repetia-se agora em Nova Iorque.
Só que o ocorrido gerou tensões entre integrantes do Planalto e do Itamaraty. Enquanto o Itamaraty alega que o problema com a suposta disponibilidade dos carros é da competência apenas do serviço secreto, membros do governo afirmam que na viagem anterior do presidente, para o enterro da rainha Elizabeth II em Londres, o mesmo tipo de incidente já havia acontecido antes, insinuando sabotagem.
Quando já eram quase 9h00, Bolsonaro decidiu caminhar até encontrar um veículo qualquer que o levasse, e, depois de pouco mais de 5 minutos, finalmente conseguiu um carro para se locomover para a abertura da Assembleia, já nem mencionando que o trafego, aquela hora, em Nova Iorque, é muito intenso.
No entanto, o horário marcado com Guterres (que era às 8h40) já havia passado havia muito tempo e quando Bolsonaro chegou ao prédio da ONU, os dois acabaram posando apenas para foto, sem concretizarem uma reunião formal por falta de tempo.
De dizer que estão outras dezenas de Chefes de Estado ao mesmo tempo em Nova Iorque e que da agenda de António Guterres não constaria seguramente (no dia todo) apenas o encontro com o presidente brasileiro. Bastará para tanto recordar que, nessa mesma tarde, também discursou o presidente francês, Emmanuel Macron e antes já tinham discursado o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, assim como o premiê japonês, Fumio Kishida e o chanceler alemão Olaf Scholz. Quarta-feira foi a vez de falar o presidente norte-americano Joe Biden e ontem do ministro das relações exteriores russo, Sergey Latrov e o premiê português, António Costa.
Ou seja, o secretário-geral da ONU tem uma agenda muito preenchida com encontros com outros chefes de Estados dos 193 países representados na Assembleia-Geral que estão chegando para discursar e reunir, num ambiente em que ameaças de guerra nuclear estão sendo proferidas naquela que é uma instituição intergovernamental que foi precisamente criada, a seguir à segunda guerra mundial, para promover a integração e a cooperação entre as nações e cujo principal objetivo é criar mecanismos para evitar conflitos entre os Estados.
Apenas uma nota sobre o discursodo presidente brasileiro, porque não tenho por hábito perder meu tempo com coisas triviais!
O presidente brasileiro voltou a fazer campanha eleitoral, desta feita durante o seu discurso de abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, retornando a seus temas de predileção, ou seja, defesa da família “desde a concepção”, repúdio à “ideologia de gênero”, endividamento no passado da Petrobras e falando sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sem nunca o mencionar diretamente, ao afirmar ter extirpado “a corrupção sistémica que existia no país” e criticando os partidos de esquerda.
“Somente entre operíodo de 2003 e 2015 onde a esquerda presidiu o Brasil o endividamento da Petrobras por má gestão, loteamento político e desvios chegou à casa dos 170 mil milhões de dólares. O responsável por isto (Lula da Silva) foi condenado em três instâncias por unanimidade, delatores devolveram mil milhões de dólares e pagamos para a bolsa de valores americana outros mil milhões (de dólares) por perdas de seus acionistas. Este é o Brasil do passado”.
Numa brevíssima alusão sobre o conflito na Europa, Bolsonaro se manifestou em defesa da negociação de um cessar-fogo imediato na Ucrânia e disse ser contra as sanções económicas impostas à Rússia.
Com sempre em contramão... deve ser dos poucos líderes mundiais que não repudiou frontalmente as ameaças de guerra nuclear feitas pela Federação Russa.
Em suma, a viagem do Presidente brasileiro para participar na Assembleia-Geral na sede da ONU também provocou reações negativas na imprensa norte-americana. Mais outro vexame!
Vó Ana sempre me dizia "Donde a vergonha sai, nunca mais entra."...